Produzir um filme sem meios é uma questão de cheta. É olhar à volta, só ver treta e desejar mais com muito menos.
Produzir um filme sem meios é por vezes uma necessidade. Por vezes a única maneira de ter um filho é criá-lo sem meios. Mas não será necessariamente pior ou menos amado por isso. Apenas diferente.
Produzir um filme sem meios é uma questão de inocência. A maturidade não se permite a tais investimentos, mas também não experimenta as loucuras da juventude.
Produzir um filme sem meios é uma questão de sentimento. Às vezes mais que uma questão de talento, é a forma como o sentimento supera a adversidade impondo uma resposta criativa no momento. É uma questão de visão, olhando de baixo mas vendo a resposta que mais ninguém encontrou.
Produzir um filme sem meios é uma questão de cultura. Muitas vezes a aplicação de esforços canaliza-se para a resolução de questões práticas do filme, não se projectando esse esforço nas questões artísticas do mesmo. Um excelente filme seria o making of de um filme sem meios.
Produzir um filme sem meios é uma odisseia que premeia os mais persistentes. Os persistentes são aqueles que não desistem até à obtenção da resposta desejada enfrentando seja o que for. Os resistentes limitam-se a sobreviver, mantendo-se à tona da água.
Produzir um filme sem meios não é uma questão de cinema mas um exemplo que pode ser projectado a outros mundos, que o poderiam apoiar nem que fosse vendo-o.
Produzir um filme sem meios é uma questão de loucura. Porque a sanidade nada tem a ver com a produção artística. Só um masoquista troca meses de trabalho por minutos de prazer.
Produzir um filme sem meios é uma escola e para muitos a única que existe. As mais belas flores nem sempre são as com melhor adubo que as flores alimentadas com paixão cheiram sempre melhor.