A manhã levantou-se fresca quando me sentei no miradouro. Preocupei-me com os pombos nas árvores mas os pombos não corresponderam à procupação. Sabia ao que vinha e o José Luís Peixoto não deixou que trocasse 'nenhum olhar' com a vista de Lisboa. De livro aberto, mergulhava-me na leitura quando o ouvi pela primeira vez. Um passo lento que se seguia a outro passo mais lento ainda, que parecia vir na minha direcção. Um passo que envelhecia antes de assentar o outro. Olhei e vi-o aproximar-se devagar tão devagar como o polvo se ajeita ao peixe. Pediu licença e, antes que se sentasse, ajeitei-me dispensando a proximidade. Falou-me do tempo que passa e do que não passa. E convidou-me a uma passa. Disse-lhe que não fumava mesmo antes que ele perguntasse se não fodia. Habituado que fui a discutíveis personalidades na longa juventude lá me fui dispensando à companhia. Ainda me fez dar-lhe a mão. Não só uma vez mas à segunda e antes que o retalhasse e à bengala, fui-me.
Ele há vistas de Lisboa...